O Método Calatônico de Pethö Sándor
O Método Calatônico - Calatonia® e Toques Sutis – foi idealizado pelo médico húngaro Pethö Sándor e trazido para o Brasil em 1949.
Abrange inúmeras técnicas e fornece muitas possibilidades terapêuticas podendo figurar como terapia central ou procedimento complementar.
Aciona a capacidade de auto-regulação do organismo e promove reorganizações psicofisiológicas em vários níveis, apresentando efeitos regeneradores no tratamento de traumas, estresse pós traumático, sintomas mentais e psicossomáticos, e dores em geral.
A sequência de toques é feita sobre a pele, e em várias partes do corpo. Promove relaxamento, consciência corporal e integração fisicopsíquica.
Vem sendo utilizado na prática clínica, em hospitais, ambulatórios públicos, escolas, Ongs, instituições de idosos, Tribunal de Justiça e em comunidades, em ações de Psicoeducação Preventiva, Programas de Intervenção Psicossocial, Programas de Ajuda Humanitária Psicológica, e também no treinamento e desenvolvimento de equipes nas áreas da saúde e educação.
"No original grego o verbo Khalaó significa 'relaxação' e também 'alimentação', afastar-se do estado de ira, fúria, violência', 'abrir uma porta', 'desatar as amarras de um odre', 'deixar ir', 'perdoar aos pais', 'retirar todos os véus', etc." (Pethö Sándor).
O QUE, AFINAL, EU APRENDI COM SÁNDOR?
A ouvir meus próprios passos, a batida de meu coração, e a música de minha respiração.
A tocar a alma, a valorizar as imagens e o lado esquerdo do corpo; a praticar a escuta intuitiva e a abrir-me para receber o outro. A cultivar o dom da empatia. A me comunicar sem necessidade de barreiras. A desenvolver a sensibilidade. A ser uma trabalhadora da alma, incansável, como abelha - operária em sua colméia. A transpor sistemas representacionais de separação, divisão e decodificação entre sujeito e objeto.
A ver o mundo sendo nele. A desembrulhar-me para o mundo, desvestir-me da túnica de pele e iluminar a consciência.
Aprendi a ver a pele como uma membrana fina, que separa o mundo interno e externo. Transduz informações de dentro para fora e de fora para dentro. É película sutil, elástica e flexível, mundo intermediário possibilitador do mundo imaginal.
Aprendi a mergulhar no mundo imaginativo e a perceber que o meu modo de ver é predominantemente sintético e analógico, que se expressa antes em imagens do que em palavras.
Aprendi a desenvolver a função intuitiva - ou a dar crédito a ela. É o todo que me convoca (e me aflijo por não poder traduzi-lo em conceitos).
A atender pessoas colocando-me ao seu serviço (terapia é servir!). A ter fé no processo. A acreditar que o objetivo é o processo em si. A aceitar a transitoriedade da experiência, da vida, não apreensível em esquemas. “Man is not the summit of evolution; he is a transitional being”. (Sri Aurobindo).
A receber o que herdei de meus pais como uma graça, um legítimo merecimento para meu aprendizado. A esculpir e modelar meu corpo, segundo critérios fora do padrão aceito e valorizado. A descobrir o meu jeito- de- ser- neste -corpo, sua forma de funcionar, seu ritmo e movimento. A funcionar com o coração, a “pensar com o coração”, a tocar com o coração.
A ver e ouvir e conversar com as costas; tocar com as mãos, os pés, os cotovelos e joelhos; tocar com o olhar e com o sopro. Contar histórias na coluna e cantar no osso sacro.
A valorizar as minúcias, os recantos, as dobras, espaços interdigitais, os pelos e fios de cabelo.
A dar batidinhas nos ossos, desatarraxar a cabeça, andar com os pés sobre a coluna, contar tabuada no ventre, tocar o nariz e as orelhas, respirar pelas articulações, puxar e estirar, abrir e deslizar, fazer varreduras e sacudidelas. A praticar o cafuné científico, fiar a coluna, fazer cestinha nos olhos, dançar com os ombros, dançar com os pés nas paredes, dar tapinhas com a mão em concha, tocar sanfona no diafragma, fazer vibrações sutis no corpo todo. A descobrir que o choro e o riso brotam do diafragma. Fazer chacoalhões e rotações, circulinhos nos dedos dos pés, movimentos de oitos deitados e em pé, de oitinhos e oitões. A reajustar os pontos de apoio. A descomprimir fracionadamente o corpo todo. A tocar harpa nas pernas. A dar o passo do dragão, passear no mel, apanhar laranjas, movimentar-me como o moinho, a foice, o flamingo, o pêndulo.
A tocar e abrir as asas do corpo e do imaginário.
Aprendi a trabalhar com o corpo num processo de desvestir, desnudar e simultaneamente cobrir, e tapar (proteger), revestindo-o de outras qualidades: descobrir cobrindo (velando e desvelando). É a passagem da pedra bruta ao corpo sutil; desenvolvendo o corpo para torná-lo translúcido. O diáfano corpo-diamante, vida compactada e transparente, atravessado pela luz.
Aprendi com o método calatônico, a “desatar o odre, a soltar as amarras” da separação do mundo interno e externo. (khalaó, em grego indica “relaxação”, “alimentação”, “afastar-se do estado de ira, fúria, violência”, “abrir uma porta”, “desatar as amarras de um odre”, “deixar ir”, “perdoar aos pais”, “retirar todos os véus dos olhos”).
Aprendi a arte de edificar meu corpo e adquiri a experiência de Ser um corpo.
Vi e experimentei que a doença e a dor podem ser o único caminho para nos dar a conhecer e nos resgatar esta condição.
Aprendi que a pele se alarga, se amolda, se descola e desloca (decola), que contém, que arrebenta, que se estica e se encolhe, e que é fina, muito fina (já fui pele e osso). Que cada parte da estrutura corpórea, a saber, os músculos, os ossos, as fáscias, o tecido conjuntivo, as vísceras, cada articulação, cada pedaço de pele (e cada cicatriz), contam a história do vivido e estão prenhes de potencialidades que através de um toque (de um outro) podem ser despertadas.
Aprendi que há várias dimensões de toques: o toque forte, o toque firme, o toque sutil, o toque sem toque, o toque de polaridades, o toque imaginado.
Aprendi a observar o corpo; a percorrê-lo dos pés à cabeça, a perceber seus espaços internos e externos, a observar suas linhas, sinuosidades, dimensões de largura e comprimento, proporções, correspondências, polaridades. A viajar por seus diversos humores e estados.
A me colocar no espaço, a ganhar espaço; a respeitar a origem, o fundamento, a respeitar os limites, a ver através da fina película-véu da pele.
Aprendi a recriar o corpo através do toque - tão simbólico quanto o corpo.
Aprendi a ver com as mãos, a escutar com o corpo, a tocar com os olhos, a ouvir com o coração, a sorrir com os pés, a chorar com os quadris.
Aprendi a ser pedra e a ser flor. A ser verde e amarela, azul e violeta, num transformismo camaleônico.
Aprendi a acreditar no poder criador e regenerador. A ouvir a voz do silêncio. O barulho do intestino. A escutar à distância e a ver de perto. A dançar sobre águas e voar com asas invisíveis. A olhar para a noite e enxergar o sol e para a lua cheia e ver sua face luminosa. A cantarolar como pássaro e assobiar como criança. A dançar a dança guerreira do índio e o sacolejar como um sambista. A virar sapo e princesa e a lembrar das mais doces lembranças.
Aprendi a me virar, após muitos revirares. A dar cambalhotas e ver o mundo de ponta-cabeça, a erguer os pés para o céu e receber suas bênçãos. A virar a bunda para a lua e dormir em paz. A sentir o sentido da vida nas pequenas coisas. A pegar no imaterial, no impalpável com mãos de fada. A acariciar o macio, a acolher o duro e a amaciar. A participar da transformação, passo a passo, sendo surpreendida e surpreendendo-me.
Aprendi que devo caminhar com a certeza de um devoto, a fidelidade de um samurai e a paciência de um monge.
Aprendi a ser cientista – da psique ; cultivadora de pomares e de plantas, das mais comuns às mais exóticas, jardineira cuidadosa.
A zelar pelo maior patrimônio - a CASA-TEMPLO que nos foi dada:
O CORPO - METÁFORA DA EXISTÊNCIA
Aprendi a Ser um corpo e a entrar em contato com a sabedoria implícita no processo de construção deste ser através do corpo.
Aprendi a Arte da Alquimia, que requer o homem todo. Corpo-copo, corpo-taça, corpo-vaso alquímico.
Tive uma educação voltada para o corpo na minha formação em psicologia. Etimologicamente, educar é educere = tirar de dentro. Educere a água do poço = des-abrochar, des-envolver, des-embrulhar, des-cobrir, des-velar.
O trabalho psicológico é um trabalho de laboratório onde se deixa acontecer. E deixar as coisas acontecerem é promover o retorno ao Ser. O ser é o lugar da existência personificada e ela será experimentada no corpo e não em outro lugar.